segunda-feira, 30 de julho de 2012

loto

Essa semana disse para o meu terapeuta que cansei. Gente do céu, como existem desencontros no mundo! Tô aí, investindo, saindo, conhecendo rapazes, mas pessoal, tá fogo. Um amigo querido e de longa data me diz que eu não posso desistir, que com a quantidade vem a qualidade. Tô começando a duvidar dessa teoria, porque por enquanto tô acumulado pontos só na quantidade. Não acredita? Então escuta essas aqui e depois me diz se eu tô mentindo:

J.R. era um advogado com um sorriso bonito, idade boa e que sabia escrever direitinho. Nos encontramos num domingo à tarde, numa sorveteria. Ele já estava me esperando, porque tinha vindo mais cedo de Suzano. "Mas você mora em Suzano?". Sim, ele morava em Suzano. Trabalhava com campanhas políticas, já tinha saído vereador por algum partido, mas não conseguiu se eleger. Papo vai, papo vem, começamos a falar de viagens. Perguntei qual tinha sido a viagem que ele mais tinha gostado na vida. Ele desconversou, mudou de assunto. Eu retomei. "Nunca saí do Brasil" foi a resposta. Na verdade, mal tinha viajado dentro do Brasil. Morria de medo de andar de avião, tinha claustrofobia de ficar tanto tempo preso num lugar. E tinha medo de chegar num lugar sem saber falar a língua e sem conhecer ninguém. "Vai que algo acontece? Pra quem eu vou ligar?". A insegurança do moço disparou meu sistema de alarme interno, mas ignorei: ele era boa gente, parecia interessado, por que não? Resolvi marcar um segundo encontro.

Marcamos um cinema na semana seguinte. Nos encontramos no Kinoplex Itaim, para assistir "O Exótico Hotel Marigold". Ele chegou atrasado porque estava vindo de Suzano no horário do rush (aqui preciso dizer: o moço foi fofo o suficiente para voltar para Suzano - ele já estava em SP - para tomar banho, se trocar e pegar a estrada novamente pra me encontrar). Assistimos o filme, demos umas risadas e depois emendamos num japa. E em meio à infinidade de sushis e sashimis que lotavam nossa mesa, vi que aquilo não ia dar em nada. Passadas as introduções, o papo não evoluía. E acabou definitivamente quando a certa altura ele me disse que ainda morava com os pais aos 37 anos porque era mais confortável. "Assim eu não tenha que me preocupar em pagar aluguel, lavar roupa ou cozinhar". De repente tudo ficou silencioso e a única frase que reverberava na minha cabeça era "Run, run for your life!". Que foi exatamente o que eu fiz.

S. não tinha uma foto exatamente espetacular no perfil do site de relacionamentos, mas tudo bem, nem sempre o cara é fotogênico. Trocamos umas mensagens, depois tivemos longas conversas no Skype. Tínhamos formação comum, tanto acadêmica quanto religiosa. Ele tinha se casado cedo, mudado para os EUA, tido dois filhos. Separado há três anos, tinha retornado ao Brasil para reconstruir a vida - estava começando um negócio de importação de instrumentos musicais. O encontro no restaurante-adega foi legal, mas nem depois de termos matado uma garrafa inteira de vinho rolou um clima. Já era quase meia-noite quando nos despedimos e, apesar da insistência do moço para me levar para casa, peguei um táxi e fui contando a história pro pobre motorista durante todo o trajeto. Devia ter deixado uma gorjeta maior pra ele.

D. morava numa cidadezinha no interior de MG e nas fotos dava para ver que ele tinha passado por várias fases: a de músico com cabelo comprido, de ator com cabelo curtinho, a de adestrador de cavalos com chapéu. O cara era envolvido com teatro desde idos tempos e agora estava dando um tempo da agitação na calmaria da roça. As mensagens que trocávamos eram surpreendentemente densas pra um site de relacionamento. Nunca achei que fôssemos nos encontrar - tudo bem que eu tô empenhada, mas despencar até Carmo da Cachoeira pra encontrar alguém seria um exagero - mas eis que num sábado de manhã ele me escreve dizendo que estava em Campinas, se eu não queria marcar um café. Marcamos. Nos encontramos. E não demorou para descobrir que não tínhamos absolutamente NADA em comum. O cara era intenso - tão intenso, tão intenso que eu saí do café exausta, com vontade de chorar. Cheguei em casa e às 20h de um sábado lindo eu já estava na cama, porque não tinha energia pra mais nada.

Essa história de Internet dating é tipo jogar na loto. Você faz o jogo, pega a fila na casa lotérica, deixa seu dinheirinho lá e torce pra ter escolhido os números certos. Às vezes você acerta alguns números. Às vezes erra feio. E às vezes, quando as estrelas se alinham, você faz o jogo e leva o prêmio para casa. Quando isso acontece, você pensa: pôxa, até que as horas passadas na fila valeram a pena. O problema é que parece que as estrelas só se alinham quando o cometa Halley passa. Mas continuo jogando. Vai que passa algum outro cometa que eu ainda não conheço e a sorte sorri pra mim?

sexta-feira, 20 de julho de 2012

planilha de excel

Quando eu estiver bem velhinha, no meu leito de morte, vão poder me acusar de tudo, menos de que não me esforcei para encontrar um cara legal com quem viver feliz para sempre.

Desde março me empenho, de uma forma tão irritantemente metódica que só falta envolver uma planilha de Excel, a encontrar minha cara metade. O problema de quando a gente passa por um relacionamento bom é que de repente se vê fora da caverna e percebe que a vida pode ser bem mais completa com alguém. E aí você fica estragada para a vida. Mas isso é tema para outro post.

Renovei minha assinatura no tal site de relacionamentos. Em um ano recebi mais de mil (mil!) perfis em minha caixa postal. Alguns eram legais. Outros nem tanto. Os que listavam a combinação "mulher-sexo-carro-cerveja" como essenciais na vida iam direto para a pasta de arquivados, para nunca mais serem abertos. Eu sei, eu sei, todo mundo me diz para não passar a peneira muito fina. Mas a gente precisa colocar o limite em algum lugar, não?

Desses mil, mandei piscadinhas para alguns, quebra-gelos para outros. Em alguns casos fui ignorada. Em outros fui mandada diretamente para a Sibéria da pasta dos arquivados. Mas em algumas ocasiões, fui correspondida e a comunicação virtual evoluiu para conversas no Skype, que depois se transformaram em encontros de verdade. Só um deles passou para um segundo encontro. Para vocês verem como eu não estou mentindo, alguns highlights dos últimos meses:

F. morava nos fundos da fábrica de auto-peças da família para não perder tempo no trânsito. Era japonês, mas podia ser confundido com um boliviano. Baixinho, simpático, interessado. Era uma espécie de Midas: tudo em que ele colocava a mão dava dinheiro. Tinha uma editora que publicava catálogos no ramo de autopeças, uma mina de ouro. Estava reformando um sítio recém-comprado em Mairiporã. O próximo investimento ia ser numa fazenda de laranjas. Eu, na minha santa miopia, não vi o marido rico em potencial. Deixei o bonde passar e... continuo tendo que trabalhar.

R. estava se mudando da Bélgica para cá, depois de ter morado quase dez anos na Europa. Dois filhos pequenos, estava separado há três anos. Em nosso primeiro encontro, me trouxe de presente uma caixa de chocolate belga. A conversa da Livraria Cultura se estendeu para um almoço no Viena ao lado. As histórias que ele me contava, no entanto, me pareciam surreais demais. Lutou em Kosovo quando tinha 19 anos, tinha sido mandado para o Iraque numa missão - tudo muito 007 pro meu gosto. Ainda me mandou umas mensagens depois desse encontro, mas não me inspirei. Vai que ele era um agente secreto querendo se infiltrar na comunidade chinesa. Se a máfia descobre, eu viro picadinho no Campeão.

E. não negava as raízes bolivianas - era olhar para ele e pensar naqueles bolivianos de poncho que tocam flautinha no Embu. Bem mais novo do que eu, era maquetista 3D (hã?) e fotógrafo nas horas vagas. Bem tímido, falava baixinho e olhando para baixo. Tinha uma filha de quase 10 anos, que morava com a ex-mulher. Não perdia oportunidades de passar o maior tempo possível com a menina, nem que isso significasse viajar com a mãe da menina e o atual marido dela. Vai ser pós-moderno assim lá longe. O jantar foi divertido, mas não via nada além daquilo. Nos despedimos na frente da lanchonete e ele foi enfrentar os quilômetros infindáveis que separam Moema do Bom Retiro.

A. já me esperava no restaurante quando cheguei às 22h, cansada e toda arrumada porque um date é sempre um date. E assim que pus os olhos nele, vi que ele tinha mentido sobre a idade - 40, nem aqui nem na China. Inglês, morava em Valinhos e tinha... quatro filhos. A ex-mulher mora no mesmo condomínio, porque assim as crianças não têm que se deslocar tanto. Tinha um negócio de comércio exterior e viajava muito. Divertido, fez questão de pagar a conta (ponto pra ele), mas eu mencionei que ele tem quatro filhos?

Já cansou? Agora imagina eu. E esses são só o começo.

*suspiro*



silêncio

Conheci G. num site de relacionamento que assinava há anos mas que nunca havia me rendido nada - talvez porque a maioria dos mocinhos estivesse nos EUA, a umas 8 horas de vôo de qualquer possibilidade de café.

G. caiu na minha caixa postal no final de setembro do ano passado, com um perfil que era quase bom demais pra ser verdade: tinha uma idade boa (41), era gaúcho - e portanto falava com aquele sotaque delicioso do sul -, trabalhava numa empresa séria e fazia doutorado em engenharia mecânica. Como se o currículo não bastasse, fazia escaladas, participava de viagens arqueológicas, pilotava aviões e o principal: era solteiro! Para mim, que por muito tempo só me envolvi com caras de aliança, era a quebra de padrão com que eu sonhei toda minha vida adulta.

Vivemos uma história boa, bonita, leve, cheia de pequenos momentos de ternura. Com ele aprendi muitas coisas, sobre mim mesma e sobre a vida com outro. Era tudo novo e estranhamente encantador. G. foi um brisa de ar fresco na minha vidinha tão cheia de homens mal-resolvidos. Eu, que sempre estive cercada de complicações, me vi sem saber como reagir diante da simplicidade do rapaz. Estava tudo ali, nas conversas e nos silêncios. Simples, a palavra tão super-utilizada, de repente se vestiu de um outro sentido.

G. foi o primeiro relacionamento de verdade que tive. Relacionamento de gente grande. De fazer planos de futuro. Que não deram certo, porque as pessoas mudam, e os sentimentos também. Mas guardo comigo a memória de todas as pequenas gentilezas e descobertas. G. me inspirava a escrever. Com ele, as palavras vinham sem esforço. Como agora.


mea culpa

Se já existiu nesses tempos modernos algum blog abandonado, resolvidizersim certamente ganharia o título de mais abandonado do mundo. Está aí, largado às traças virtuais, sem nem uma mísera atualização desde 2010, quando resolvi exorcizar os encostos da minha fabulosa existência. O que não quer dizer que nada aconteça na vida incrível das duas visionárias que criaram esse espaço.

Para me redimir desse abandono lamentável, comprometo-me aqui, publicamente, a tentar atualizá-lo de tempos em tempos. Porque ó, história não falta. Falta tempo, falta energia, mas história não falta. Convido "eu aqui" para se unir a mim nesse esforço de tirar resolvidizersim do limbo e, quem sabe, um dia publicarmos um livro sobre nossas peripécias, ficar ricas e dar workshops pelo mundo acompanhadas, se não dos maridos, dos cartões de crédito sem limite que eles vão nos dar.


domingo, 21 de novembro de 2010

exorcismo

Esse ano, resolvi dizer não para algumas histórias velhas. Tudo bem, vai contra a filosofia do blog, mas tem horas que a gente tem que escolher. E eu escolho estar rodeada de gente coerente e parar de perder tempo com homens que tiveram mais de uma chance e que conseguiram perder todas elas. Que não tiveram a decência nem o caráter de terminar a história da forma como ela merecia.

Esses homens, depois de um trabalho de observação longo e minucioso, podem ser divididos em algumas categorias.

Tem, por exemplo, o cara enrolão. Ah, nesses eu tenho pós-doc. O que dizer de um cara que "estava se separando" quando começamos a sair, depois se separou de fato para engatar imediatamente um outro casamento, e em todo esse tempo te manteve no banco de reservas? De vez em quando soltava um "eu te amo", como se essa fosse uma frase que se possa soltar por aí, assim, descuidadamente, sem consequências. Como se dizer eu te amo fosse parar no balcão e dizer "Me vê dois pãezinhos, por favor". Gostava de me manter perto, mas numa proximidade segura. Que com dois passos para trás se tornava distância. Um dia, depois de oito anos de relacionamento, resolvi mandá-lo passear. Não ficou nem amizade.

Tem também o cara que, OK, um pouco mais decente, pelo menos não está casado quando te procura. Mas que bastou a mulher/namorada do momento dar um pé que ele, de repente, como num passe de mágica, lembra do seu telefone. E te chama pra sair, pra cinema, pra jantar, pra tomar cerveja, pra dar risada. Mantém aquela coisa ambígua, meio-amigo-meio-pretê. Mas basta a namorada do momento/esposa repensar e resolver voltar, que de repente você não existe mais. Mas e as cervejas, o cinema, as conversas na noite paulista? Não importam, porque agora ele está namorando. Ou casou de novo, nunca se sabe. E eu quase consigo ouvi-lo dizendo: "Mas ó, prometo: se me separar de novo, você vai ser a primeira pessoa pra quem eu vou ligar." Então tá.

E o cara que só te liga quando precisa de alguma coisa? Os torpedos sempre começam com "E aí, quando a gente vai tomar uma caipirinha?". Você responde algo tipo "Que tal semana que vem?" e ele responde imediatamente com "Ótimo, vamos marcar. Enquanto isso, você pode me ajudar com essa info?" Caí uma, caí duas. Na terceira, deixei falando sozinho. E nunca mais fui tomar caipirinha. Pelo menos assim economizo a viagem até o centro da cidade e a carona pós-caipirinha até a casa dele.

Tem também o cara que se faz passar pelo "casado incompreendido". Casou muito cedo, tem filhos marmanjos e está sozinho em outro país. Jura de pés juntos que traiu a mulher uma vez só em 30 anos. Você acredita em tudo que ele diz - como não acreditar num cara que te liga toda vez que vocês se despedem para saber se você já chegou em casa? Até o dia em que você descobre que ele tentou agarrar uma de suas amigas.

Mas, vocês vão dizer, o que um não quer, dois não fazem. Lógico que eu tenho culpa nessas histórias também. A começar pelo meu péssimo gosto pra homens. Por isso, resolvi exorcizar esses caras da minha vida e eliminar qualquer vestígio de velhos padrões que façam repetir, pela enésima vez, esse ciclo suicida.

Resolvi dizer não, pra começar 2011 dizendo sim pros caras certos.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

freak

Um dos primeiros mocinhos que eu conheci no match.com me parecia um achado. A. tinha um perfil legal - idade boa, viajado, americano, trabalhava num banco internacional, escrevia um português certinho - e tinha me escrito sem ver foto! Das duas, uma: ou era completamente louco ou era muito corajoso e qualquer que fosse o caso, certamente garantiria um date minimamente interessante.

Trocamos emails e as esquisitices começaram:

"Now the important stuff... No history of mental illness or alcoholism or drug addiction. I have no children. I have no ex-wives. (not that theres any wrong with being divorced or having children)... I consider myself pretty normal, but thats for others to judge. Agora o material importante... Nenhum history a doença mental ou o alcoholism ou o addiction da droga. Eu não tenho nenhuma criança. Eu não tenho nenhum ex-esposas. (não esse os errada com ser divorciado ou tendo crianças)..."

Agora me diz: quem, em sã consciência, enfatiza que não tem história de doença mental na família no primeiro contato com uma absoluta estranha? E nas duas línguas, só pra me certificar de que eu tinha entendido! Achei tudo um pouco surreal mas, sem dar ouvido à minha intuição, acabamos marcando um encontro.

Marcamos numa terça-feira, num café dentro de uma livraria. Um lugar iluminado, seguro e movimentado. Antes, incumbi "eu aqui" da missão de me ligar às 20h30 para saber se estava tudo bem.

Cheguei às 20h, como combinado. A. folheava um livro que eu não consegui ver qual era e quando me viu entrar, hesitou entre me cumprimentar ou continuar lendo. Me apresentei, cumprimentamo-nos e fomos para o café. E quando o garçom veio com o cardápio eu já tinha sacado que daquele encontro não ia sair nada.

O moço era quieto, evasivo. Respondia minhas perguntas com outras perguntas ou piadinhas sem graça. Tentei mudar para inglês, talvez fosse o idioma. Nada. A conversa continuava truncada. Nos breves momentos de diálogo, ele (1) disse não entender que tanto as pessoas gostavam do parque Ibirapuera, porque ele não via nada demais nele; (2) reclamou porque os brasileiros precisavam se programar para viajar. "Não entendo por que tanta enrolação. Por que as pessoas não podem pegar as malas e ir para o Peru amanhã, por exemplo?"; (3) declarou que nunca viveria num país poluído, mas que São Paulo não era tão poluído assim.

E eu achando tudo aquilo cena de filme cult. Quanto mais eu tentava uma conversa normal, mais bizarra ela ficava. E quanto mais bizarra, mais eu falava, porque é o que acontece quando fico nervosa. Até que num determinado momento, A. me disse: "Calma, relaxa."

Eu parei de falar imediatamente, rezando para que ele fosse falar "Smile, you're on candid camera!". Nada. Ele cruzou os braços e ficou quieto. E eu fiquei olhando para aquela cena, tentando lembrar se já tinha me metido em fria maior do que essa.

Mas o que mais me incomodou foi o olhar. Um olhar de canto de olho, desconfiado. Ele me olhava, eu desviava o olhar, tomava meu lassi e torcia para que "eu aqui" me ligasse logo para eu ter um pretexto para ir embora.

8h45 e nada de ligação. Resolvi esquecer os bons modos e tomar uma atitude drástica: "Eu ainda não conheço essa livraria. Acho que vou dar uma olhada". A. fez algum comentário do tipo "Essa livraria é muito sem graça" e se levantou logo atrás de mim. Eu circulei pela loja como se estivesse sozinha. Ele ainda tentou conversar um pouco, perguntando dicas de restaurantes chineses. Eu dei sugestões de lugares autênticos, frequentados pela comunidade e que primam pelo mau atendimento, luz branca, chão grudento e comida ótima. Diante da minha descrição, ele imediatamente retrucou: "Nunca entraria num lugar desses."

Eu engoli o xingamento que estava na ponta da língua, fingi que ignorei o comentário e continuei folheando os livros, até que ele finalmente notou que se já houve duas pessoas no mundo que não clicaram, essas pessoas éramos nós. "Acho que já vou indo", disse ele.

Eu respirei aliviada, disse "OK, a gente se fala" e esperei mais uns dez minutos na livraria, só por garantia. E liguei xingando para "eu aqui", que tinha ficado presa numa reunião com o chefe.

Isso é para eu aprender a escutar mais minha intuição.


diversão garantida

O match.com é um dos sites de relacionamentos mais antigos nesse mercado. Lembro-me de ter feito uma matéria sobre ele em 2000, quando encontrar gente pela Internet ainda era novidade. A matéria, feita para um jornal na Flórida, tinha um tom otimista: um desfile de casais que tinham se encontrado e "vivido felizes para sempre", graças ao match.com.

O serviço se expandiu e hoje tem filiais no mundo todo, inclusive no Brasil. Dá para você usar o serviço sem pagar, mas seus benefícios e acesso à base de dados são restritos. Você não consegue ler emails nem recebe a newsletter diária com uma lista de mocinhos com quem pode dar samba.

Resolvi testar as águas antes de me tornar membro pagante. Meu perfil era simples e curto, sem fotos, com uma ou duas tiradas engraçadinhas, afinal eu tenho uma reputação a zelar. O filtro ia direto ao ponto: mulher solteira procura moços de 32 a 45. Só. Exigência zero.

E aqui começa a diversão. Eu não precisava nem encontrar ninguém. Date, pra quê? Só ler os perfis disponíveis me proporcionava pelo menos algumas horas de entretenimento - seja pela originalidade, sinceridade ou pelo absoluto nonsense da mensagem. Alguns de meus preferidos:

"Disponivel na versao ficante e amante com possivel up grade para namorado. Sou um cara divertido, alegre, super bem humorado, inteligente, aventureiro, carinhoso, companheiro, meu corpo acho q ta legal, um pouco acima do peso, mas providencias sempre estao sendo tomadas, malho, corro e faço spinning todos os dias e assim tento manter o meu corpinho de cinderela, rsrsrsrs, mas penso q sempre temos q ir em busca da perfeição, sou muito vaidoso e gosto de estar bem comigo mesmo, e aproveitem q to em promoção, facinho facinho, mas a liquidação ta acabando, entao aproveitem, rsrsrsrsrs, busco uma mulher inteligente, bom papo, extrovertida, culta, bem tratada, bonita, e tudo mais q tenha OSA, menos as horrorosas por favor, rs, q curta estar comigo sempre, seja vendo um DVD e comendo uma pipoquinha ou viajando o mundo, adoro viajar".

"Sou um homem totalmente independente, leitor convicto, LEIO PELO MENOS UM LIVRO POR SEMANA, fino, idealista, experiente, descomplicado, divertido, cheio de amor e vigor para oferecer a quem tiver anseios semelhantes.Creio em valores que hoje em dia andam meio fora de moda, como o amor ao próximo, respeito sem preconceito e acima de tudo, tolerância para com quem pensa diferente de mim, sem, é claro, perder minha própria identidade.Em suma, livre e desimpedido para assumir uma relação verdadeira. Procuro alguém com as seguintes características: segura de si e que saiba o que quer da vida ou pelo que saiba o que não quer, que não ESPANQUE o vernáculo, PESO E ALTURA PROPORCIONAIS, SOLIDEZ MORAL e espiritual e finalmente, que tenha tempo para ASSUMIR UMA RELAÇÃO. EM TEMPO, não tenho vocação para exercer as funções de pai adotivo (não estou me referindo aos filhos), psicólogo ou instituição financeira. PERFIL SEM FOTO, PERFIL BLOQUEADO, FACIL ASSIM!"

"I am a very nice, well behaved, very romantic natured, humourous and a genuine person. I am very strong in my principles and family values. I am very caring and responsible towards everyone near and dear to me. I'm a person who'll will never disapoint anyone, be it my family, friends and of course my important friends (specially mysoulmate, who's search is also on!) A nice pretty romantic, well mannered girl. She should be from a good family and education background, same as me. She should love me as much I would love her, and trust me also! I look decently well...See my pic here on my profile, and ask me for my latest (good) pics... Many people so far have complimented me for my Good Voice and nice silky hair! I would love to talk to you sometime...So you wanna hear me out?!! Hope to see u respond to my efforts of writing such a long mail... I will tell you my real name, once I communicate with you personally! Romantic Guy"

Mocinhos legais ainda não apareceram. Resolvi aumentar minhas chances e pagar a mensalidade do primeiro mês. Paquerar virtualmente é bem mais difícil do que eu pensava! Mas pelo menos a diversão pro mês está garantida - e pela bagatela de R$ 40.