Essa semana disse para o meu terapeuta que cansei. Gente do céu, como existem desencontros no mundo! Tô aí, investindo, saindo, conhecendo rapazes, mas pessoal, tá fogo. Um amigo querido e de longa data me diz que eu não posso desistir, que com a quantidade vem a qualidade. Tô começando a duvidar dessa teoria, porque por enquanto tô acumulado pontos só na quantidade. Não acredita? Então escuta essas aqui e depois me diz se eu tô mentindo:
J.R. era um advogado com um sorriso bonito, idade boa e que sabia escrever direitinho. Nos encontramos num domingo à tarde, numa sorveteria. Ele já estava me esperando, porque tinha vindo mais cedo de Suzano. "Mas você mora em Suzano?". Sim, ele morava em Suzano. Trabalhava com campanhas políticas, já tinha saído vereador por algum partido, mas não conseguiu se eleger. Papo vai, papo vem, começamos a falar de viagens. Perguntei qual tinha sido a viagem que ele mais tinha gostado na vida. Ele desconversou, mudou de assunto. Eu retomei. "Nunca saí do Brasil" foi a resposta. Na verdade, mal tinha viajado dentro do Brasil. Morria de medo de andar de avião, tinha claustrofobia de ficar tanto tempo preso num lugar. E tinha medo de chegar num lugar sem saber falar a língua e sem conhecer ninguém. "Vai que algo acontece? Pra quem eu vou ligar?". A insegurança do moço disparou meu sistema de alarme interno, mas ignorei: ele era boa gente, parecia interessado, por que não? Resolvi marcar um segundo encontro.
Marcamos um cinema na semana seguinte. Nos encontramos no Kinoplex Itaim, para assistir "O Exótico Hotel Marigold". Ele chegou atrasado porque estava vindo de Suzano no horário do rush (aqui preciso dizer: o moço foi fofo o suficiente para voltar para Suzano - ele já estava em SP - para tomar banho, se trocar e pegar a estrada novamente pra me encontrar). Assistimos o filme, demos umas risadas e depois emendamos num japa. E em meio à infinidade de sushis e sashimis que lotavam nossa mesa, vi que aquilo não ia dar em nada. Passadas as introduções, o papo não evoluía. E acabou definitivamente quando a certa altura ele me disse que ainda morava com os pais aos 37 anos porque era mais confortável. "Assim eu não tenha que me preocupar em pagar aluguel, lavar roupa ou cozinhar". De repente tudo ficou silencioso e a única frase que reverberava na minha cabeça era "Run, run for your life!". Que foi exatamente o que eu fiz.
S. não tinha uma foto exatamente espetacular no perfil do site de relacionamentos, mas tudo bem, nem sempre o cara é fotogênico. Trocamos umas mensagens, depois tivemos longas conversas no Skype. Tínhamos formação comum, tanto acadêmica quanto religiosa. Ele tinha se casado cedo, mudado para os EUA, tido dois filhos. Separado há três anos, tinha retornado ao Brasil para reconstruir a vida - estava começando um negócio de importação de instrumentos musicais. O encontro no restaurante-adega foi legal, mas nem depois de termos matado uma garrafa inteira de vinho rolou um clima. Já era quase meia-noite quando nos despedimos e, apesar da insistência do moço para me levar para casa, peguei um táxi e fui contando a história pro pobre motorista durante todo o trajeto. Devia ter deixado uma gorjeta maior pra ele.
D. morava numa cidadezinha no interior de MG e nas fotos dava para ver que ele tinha passado por várias fases: a de músico com cabelo comprido, de ator com cabelo curtinho, a de adestrador de cavalos com chapéu. O cara era envolvido com teatro desde idos tempos e agora estava dando um tempo da agitação na calmaria da roça. As mensagens que trocávamos eram surpreendentemente densas pra um site de relacionamento. Nunca achei que fôssemos nos encontrar - tudo bem que eu tô empenhada, mas despencar até Carmo da Cachoeira pra encontrar alguém seria um exagero - mas eis que num sábado de manhã ele me escreve dizendo que estava em Campinas, se eu não queria marcar um café. Marcamos. Nos encontramos. E não demorou para descobrir que não tínhamos absolutamente NADA em comum. O cara era intenso - tão intenso, tão intenso que eu saí do café exausta, com vontade de chorar. Cheguei em casa e às 20h de um sábado lindo eu já estava na cama, porque não tinha energia pra mais nada.
Essa história de Internet dating é tipo jogar na loto. Você faz o jogo, pega a fila na casa lotérica, deixa seu dinheirinho lá e torce pra ter escolhido os números certos. Às vezes você acerta alguns números. Às vezes erra feio. E às vezes, quando as estrelas se alinham, você faz o jogo e leva o prêmio para casa. Quando isso acontece, você pensa: pôxa, até que as horas passadas na fila valeram a pena. O problema é que parece que as estrelas só se alinham quando o cometa Halley passa. Mas continuo jogando. Vai que passa algum outro cometa que eu ainda não conheço e a sorte sorri pra mim?
Escorre, acumula, transborda
Há 3 anos