quarta-feira, 22 de outubro de 2008

projeto piloto

Dizer sim nunca é fácil. Principalmente quando você acha que não tem nada a ver. Mas e se o cara insiste por mais de dois meses, te manda mensagens fofas e te liga todas as semanas para saber como você está? Será que não vale a pena tentar, mesmo que o moço, com dois filhos adolescentes e um rosto que lembra vagamente o Woody Allen, não seja seu ideal de homem?

Pois bem, A. foi o projeto piloto de resolvidizersim. Depois de dois meses de torpedos insistentes, eu finalmente disse sim e decidi sair com ele. Venceu pela simpatia - e pelo cansaço.

O encontro foi marcado para uma quinta-feira, num italiano numa área hip da cidade. Trinta minutos antes da hora marcada A. me ligou para saber se o encontro ainda estava de pé, se eu precisava de direções. Disse que sim, o encontro ainda estava de pé, que não, não precisava de direções porque meu GPS era ótimo, e que eu estaria lá na hora marcada.

Cheguei 15 minutos atrasada (meu GPS não é tão bom assim, no final das contas) e encontrei o moço, de seus 45 anos, um pouco tenso, numa mesa na calçada. Tomando chá. E lendo "Comer, rezar, amar". Eu, na minha completa ausência de superego, quando vi já tinha perguntado:



"Você está lendo ESSE livro??"

"Sim", foi a resposta tímida. "Por quê?"

"Porque esse livro é de mulher!!"

E foi com esse diálogo nonsense que começou meu date com A. O encontro se desenrolou com boas surpresas no fronte gastronômico: conseguimos uma mesa dentro do restaurante antes de morrermos congelados com o vento, a lasanha vegerariana chegou rapidinho e a sobremesa estava de tirar o chapéu.

Já no quesito date, a situação não foi tão animadora. Eu, passados cinco minutos do encontro, já sabia que queria ser só amiga. A partir do minuto seis, a expressão "gosto de ________ sozinha" (preencha com a atividade de sua preferência) começou a aparecer com uma frequência quase irritante em todas as minhas frases, na esperança de que ele entendesse.

Não entendeu. A., desde o minuto um, tentava arrancar de mim qualquer sinal de que poderíamos nos tornar um casal - uma frase com sentido duplo, um olhar mais demorado. Nos 45 do segundo tempo ele tentou um último gesto: colocar a mão na minha perna. Eu fingi que não vi, me ajeitei na cadeira e continuei contando a piada que já nem lembro qual era.

No final, dividimos a conta, nos despedimos e fomos embora. Cada um para seu canto, sozinhos. A noite estava atipicamente gelada, mas eu não estava nem aí: eu havia dito sim e acreditado, mesmo que apenas por cinco minutos, que A. podia ser aquilo que eu estava procurando há tanto tempo. E só isso, depois de tantos tombos, já era motivo para comemorar.

Entrei no carro e dei uma gorjeta extra-generosa para o flanelinha. O GPS dessa vez não me decepcionou: me levou direto para casa, sem errar o caminho nenhuma vez.

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