sexta-feira, 20 de julho de 2012

planilha de excel

Quando eu estiver bem velhinha, no meu leito de morte, vão poder me acusar de tudo, menos de que não me esforcei para encontrar um cara legal com quem viver feliz para sempre.

Desde março me empenho, de uma forma tão irritantemente metódica que só falta envolver uma planilha de Excel, a encontrar minha cara metade. O problema de quando a gente passa por um relacionamento bom é que de repente se vê fora da caverna e percebe que a vida pode ser bem mais completa com alguém. E aí você fica estragada para a vida. Mas isso é tema para outro post.

Renovei minha assinatura no tal site de relacionamentos. Em um ano recebi mais de mil (mil!) perfis em minha caixa postal. Alguns eram legais. Outros nem tanto. Os que listavam a combinação "mulher-sexo-carro-cerveja" como essenciais na vida iam direto para a pasta de arquivados, para nunca mais serem abertos. Eu sei, eu sei, todo mundo me diz para não passar a peneira muito fina. Mas a gente precisa colocar o limite em algum lugar, não?

Desses mil, mandei piscadinhas para alguns, quebra-gelos para outros. Em alguns casos fui ignorada. Em outros fui mandada diretamente para a Sibéria da pasta dos arquivados. Mas em algumas ocasiões, fui correspondida e a comunicação virtual evoluiu para conversas no Skype, que depois se transformaram em encontros de verdade. Só um deles passou para um segundo encontro. Para vocês verem como eu não estou mentindo, alguns highlights dos últimos meses:

F. morava nos fundos da fábrica de auto-peças da família para não perder tempo no trânsito. Era japonês, mas podia ser confundido com um boliviano. Baixinho, simpático, interessado. Era uma espécie de Midas: tudo em que ele colocava a mão dava dinheiro. Tinha uma editora que publicava catálogos no ramo de autopeças, uma mina de ouro. Estava reformando um sítio recém-comprado em Mairiporã. O próximo investimento ia ser numa fazenda de laranjas. Eu, na minha santa miopia, não vi o marido rico em potencial. Deixei o bonde passar e... continuo tendo que trabalhar.

R. estava se mudando da Bélgica para cá, depois de ter morado quase dez anos na Europa. Dois filhos pequenos, estava separado há três anos. Em nosso primeiro encontro, me trouxe de presente uma caixa de chocolate belga. A conversa da Livraria Cultura se estendeu para um almoço no Viena ao lado. As histórias que ele me contava, no entanto, me pareciam surreais demais. Lutou em Kosovo quando tinha 19 anos, tinha sido mandado para o Iraque numa missão - tudo muito 007 pro meu gosto. Ainda me mandou umas mensagens depois desse encontro, mas não me inspirei. Vai que ele era um agente secreto querendo se infiltrar na comunidade chinesa. Se a máfia descobre, eu viro picadinho no Campeão.

E. não negava as raízes bolivianas - era olhar para ele e pensar naqueles bolivianos de poncho que tocam flautinha no Embu. Bem mais novo do que eu, era maquetista 3D (hã?) e fotógrafo nas horas vagas. Bem tímido, falava baixinho e olhando para baixo. Tinha uma filha de quase 10 anos, que morava com a ex-mulher. Não perdia oportunidades de passar o maior tempo possível com a menina, nem que isso significasse viajar com a mãe da menina e o atual marido dela. Vai ser pós-moderno assim lá longe. O jantar foi divertido, mas não via nada além daquilo. Nos despedimos na frente da lanchonete e ele foi enfrentar os quilômetros infindáveis que separam Moema do Bom Retiro.

A. já me esperava no restaurante quando cheguei às 22h, cansada e toda arrumada porque um date é sempre um date. E assim que pus os olhos nele, vi que ele tinha mentido sobre a idade - 40, nem aqui nem na China. Inglês, morava em Valinhos e tinha... quatro filhos. A ex-mulher mora no mesmo condomínio, porque assim as crianças não têm que se deslocar tanto. Tinha um negócio de comércio exterior e viajava muito. Divertido, fez questão de pagar a conta (ponto pra ele), mas eu mencionei que ele tem quatro filhos?

Já cansou? Agora imagina eu. E esses são só o começo.

*suspiro*



Nenhum comentário: